As recentes enchentes que atingiram as cidades do Rio Grande do Sul trouxeram devastação e desespero para centenas de milhares de famílias e o cenário caótico da crise climática permanece em diversos municípios. Estima-se que mais de 2,3 milhões de pessoas foram diretamente afetadas e 581 mil estejam desalojados, conforme dados da Defesa Civil em 29 de maio 2024 às 09h05min. Além disso, estima-se que 47 milhões de toneladas de entulho resultaram da catástrofe, segundo estudo divulgado pela Agência Pública.
Causadas por chuvas intensas e constantes no mês de maio de 2024, as águas subiram rapidamente, inundando casas, destruindo infraestruturas e obrigando muitos moradores e seus animais a abandonarem seus lares, suas histórias e suas identidades. Algumas cidades foram praticamente varridas pela água, como é o caso de Cruzeiro do Sul. Outras cidades afetadas, como Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, enfrentam uma verdadeira crise humanitária, com abrigos lotados e recursos escassos para atender à demanda emergencial que se apresenta inicialmente. A situação foi agravada pela dificuldade em acessar algumas áreas, o que impede a chegada de ajuda e complica os esforços de resgate e assistência.

Com a eventual diminuição das águas e o retorno gradual dos moradores a suas residências uma nova problemática surge: a enorme quantidade de resíduos e entulhos domésticos que são deixados para trás. Móveis, eletrodomésticos, roupas e diversos itens pessoais danificados pelas águas das enchentes e pelo lodo que se acumula com o baixar das águas, precisam ser descartados, resultando em um volume impressionante de lixo.
O acúmulo de detritos não apenas obstrui ruas e dificulta a mobilidade, mas também representa um risco significativo à saúde pública, uma vez que pode atrair vetores de doenças e contaminar o ambiente. A gestão inadequada desses resíduos pode levar a uma crise secundária, onde os problemas de saúde e higiene se tornam prevalentes, prejudicando ainda mais a situação já precária dos moradores afetados.
E como é feita a gestão dos resíduos das enchentes pelas administrações públicas atingidas?

No caso da cidade de São Leopoldo, a Prefeitura solicita que os resíduos sejam descartados em frente as casas para que os caminhões da SEMURB (Secretaria de Mobilidade e Serviços Urbanos) recolham esses resíduos. Mas e depois? Qual o destino de todo esse material? De acordo com a Secretaria esses materiais serão armazenados provisoriamente em locais de depósito emergencial, onde serão separados e, gradativamente, destinados corretamente em local a ser definido em acordo com o Ministério Público.
Para enfrentar esses desafios que surgem em resposta às mudanças climáticas, é crucial a implementação de uma política eficaz de gestão de resíduos pós-enchente para cada município. Uma solução viável envolve a criação de centros de triagem temporários nas áreas afetadas, onde os resíduos podem ser classificados, reciclados quando possível e descartados de maneira adequada. Outra medida-chave para resolver a situação é o envolvimento da população na destinação dos resíduos, tanto na hora de seguir as orientações básicas quando colocam os resíduos para a rua, como para trabalhar com as cooperativas e instituições envolvidas no processo. Algumas medidas são tratadas em nosso artigo sobre “O Básico da Gestão Ambiental: O Que Sua Empresa Precisa Saber?”
A coordenação entre governos municipais, estaduais e federais, juntamente com a participação de organizações não governamentais e a comunidade local, é essencial para o sucesso dessa iniciativa. Além disso, campanhas de conscientização sobre a importância da separação de resíduos e o descarte correto podem mobilizar a população a colaborar de forma mais ativa. Investir em infraestrutura de reciclagem e na contratação de equipes especializadas para lidar com o volume excepcional de lixo gerado é um passo fundamental para garantir que a recuperação pós-enchente seja sustentável e segura para todos nós.