
As mudanças climáticas representam uma das maiores crises existenciais que a humanidade enfrenta no século XXI. Com implicações importantes para ecossistemas, economias e comunidades em todo o mundo, a necessidade de ação urgente é inegável. Neste artigo, apresenta-se os desafios e impactos das mudanças climáticas, destacando a sua complexidade e urgência de resposta.
O Que São Mudanças Climáticas?
As mudanças climáticas referem-se a alterações persistentes e de longo prazo nos padrões climáticos globais. Outro termo equivalente para “mudanças climáticas’’ é “aquecimento global”, porém este termo remete a padrões de ondas de calor no imaginário comum coletivo, e não reflete a complexidade do problema. Complexidades que incluem aumento na temperatura média da Terra, mudanças nos padrões de precipitação, aumento do nível do mar, derretimento de geleiras e outros fenômenos relacionados. Já vimos a situação atual em nosso estado quando falamos das “Enchentes no Rio Grande do Sul e a problemática do entulho”, mas aqui vamos explanar um pouco mais sobre o que está por trás disso.

Atividades humanas, particularmente a queima de combustíveis fósseis, desmatamento e agricultura intensiva, desempenham um papel significativo no aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, impulsionando os impactos das mudanças climáticas devido ao desequilíbrio ecossistêmico.
Impactos das Mudanças Climáticas
Em março de 2024, foi lançado o Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que apresentou resultados de oito anos de pesquisa, envolvendo mais de 780 especialistas em diferentes áreas de conhecimento relacionadas ao clima global e mitigação de impactos. No estudo, entre muitas revelações alarmantes e ameaçadoras, afirma-se que a temperatura do globo terrestre aumentou em 1,1ºC nos últimos dois séculos, devido à intensificação das ações humanas. A emissão elevada de gases de efeito estufa resulta em alterações drásticas na atmosfera, e, a cada elevação de 0,5ºC, sofreremos com eventos mais graves de ondas de calor extremo, secas, tempestades.
1) Eventos Climáticos Extremos:
O aumento da frequência e intensidade desses eventos climáticos extremos – ondas de calor extremo, secas, tempestades – resulta em danos significativos a infraestruturas, agricultura e saúde pública. O estado do Rio Grande do Sul vivenciou um destes episódios de extremos climáticos com as chuvas que atingiram as cidades da região do Vale do Taquari em setembro de 2023. As cidades mais atingidas foram Muçum, Arroio do Meio, Encantado e Lajeado.
Apenas oito meses após tal evento, novo episódio assola o estado, mas dessa vez atingindo 467 do total de 497 municípios, e deixando um rastro de destruição. O mês de maio registrou o maior acúmulo de chuva na história de Porto Alegre, chegando a 461,0mm até o dia 23, superando os registros da enchente de 1941 (405,5mm) e da enchente de 2023 (447,3mm).
2) Perda de Biodiversidade:
Os impactos das mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade, levando à perda de habitats, extinções de espécies e perturbações nos ecossistemas, com consequências imprevisíveis e muitas vezes irrevesíveis para os serviços ambientais essenciais. Neste ano, por exemplo, foi detectado novo episódio massivo de branqueamento de corais no Recife de Corais brasileiro, o único do Atlântico Sul.
O fenômeno vem crescendo nos mares e está diretamente ligado às mudanças climáticas devido ao aumento da temperatura dos oceanos, o que propicia a acidificação das águas matando as estruturas vivas dos corais, deixando somente um esqueleto de calcário. O cenário, após um certo tempo, é de um cemitério no fundo do mar. Toda vida sustentada pela riqueza e proteção dos corais é extinguida nesses locais e muitas espécies de diferentes grupos deixam de existir ali.

Segurança Alimentar e Hídrica:
Alterações nos padrões de chuva e aumento da temperatura têm impactos diretos na produção agrícola e no acesso à água potável, colocando em risco a segurança alimentar e hídrica de comunidades em todo o mundo. A fala a seguir foi da doutora Mercedes Bustamante, professora do Departamento de Ecologia, da Universidade de Brasília, durante a plenária dos dias 7 e 8 de maio do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
“O aumento da frequência e da intensidade de inundações, secas, tempestades e eventos extremos podem levar a interrupções consideráveis nas cadeias de suprimento de alimentos por meio de comprometimento no plantio e colheita e danos à infraestrutura. Ou seja, a mudança climática tem um impacto direto e significativo sobre a segurança alimentar e nutricional”. – Dra Mercedes Bustamante.
Quando falamos de impactos das mudanças climáticas, precisamos entender que a alteração nas eras climáticas da Terra sempre existiu e fenômenos comuns observados quase todos os anos na América do Sul – os episódios tanto de La Niña, como de El Niño – por exemplo, continuam ocorrendo. A diferença é que agora eles são intensificados por causa do agravante do aquecimento global e neste cenário, quem sofre não é a própria Terra – pois ela já viveu muitas vezes isso – mas sim os animais que nela habitam – incluindo o ser humano.
Assim fica a reflexão, se não conseguirmos suprir a necessidade de alimento e água potável para a população pois o solo está infértil, a temperatura queima a lavoura e a água está cheia de poluentes, estaremos enfrentando a ameaça de extinção do ser humano.
Deslocamento de Populações:
À medida que as condições climáticas se tornam mais extremas e os recursos se tornam escassos em alguns países, espera-se observar um aumento no deslocamento de populações – refugiados do clima, ou migrantes do clima – devido aos eventos climáticos, como inundações costeiras, secas prolongadas e degradação ambiental.
Importância da Ação Coletiva
Diante desses desafios, a ação coletiva e urgente torna-se cada vez mais necessária. Governos, empresas, sociedade civil e indivíduos desempenham papéis cruciais na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, cada qual dentro do seu alcance. A transição para fontes de energia renovável para reduzir usos de combustíveis fosseis, investimentos em eficiência energética, políticas de redução das emissões de carbono, e, em contrapartida, valorização do mercado de crédito de carbono, e redução do desmatamento são fundamentais para limitar o aquecimento global abaixo dos níveis críticos. Afinal de contas, o país tem a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, e ela seguirá sendo valiosa enquanto estiver de pé, regulando o clima na América do Sul e no planeta.
Dentro deste panorama é sem dúvida essencial fortalecer a capacidade das comunidades de se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, através do desenvolvimento de infraestruturas resilientes, sistemas de alerta precoce e estratégias de gestão de recursos naturais. A colaboração global é indispensável para enfrentar as mudanças climáticas de forma eficaz. Acordos internacionais, como o Acordo de Paris, estabelecem metas e compromissos para reduzir as emissões e promover ações climáticas coordenadas em todo o mundo.

“A terra não nos pertence; nós pertencemos à Terra.”
Frase de Ailton Krenak – líder indígena, ambientalista brasileiro e eleito ocupante da cadeira 5 na Academia Brasileira de letras no presente ano, ressalta a interconexão entre os seres humanos e a natureza – revela a realidade que devemos encarar.
Os impactos das mudanças climáticas representam a crise existencial mais delicada que enfrentamos na atualidade, o que exige uma resposta coletiva e decisiva. Com impactos cada vez mais visíveis e generalizados, a inercia não é uma opção. Busca-se através de esforços coordenados e compromissos ambiciosos, a mitigação dos piores efeitos das mudanças climáticas e a construção de um futuro mais sustentável e resiliente para as gerações presentes e futuras.